Quem sou eu

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Duploética

antes que a alma congele/ antes que o coração esfrie

não peça que adie / o que me revele

antes que o sol se ponha /antes que a noite chegue

não me peça que exponha/ o que sacia minha sede

antes que a noite parta/ antes que venha o dia

arrisco fazer poesia/ como ciência exata


antes que o tempo fuja / antes que alma sare

antes que você lave/ o que parecia suja

ouvindo o pio da coruja/ e sussurros der alcovas

poeta não cava covas/ e usa batom na blusa


escreva, não pare / é melhor ser desnuda

tomar chazinho de arruda/ e esperar que me cale

antes que a chuva caia / e que o céu assobie

antes que me arrepie/ ao olhar a tua saia


rezo pros bons ventos / levantar poeira e palavra

areia de boa lavra/ sopro que traz alento

espero castelo e graça / aceite meus cumprimentos

(talvez seja melhor/ no lugar de poeira

escrever apenas pó/ pra não quebrar a carreira)


castelo você já tem/ graça já tá vendendo

os cumprimentos são meus/ pra quem se mostra a contento

então não carece bater / só se preocupe em entrar

e com um poema espantar / toda tristeza do mundo

a prosa tá animada/ entre o côncavo e o convexo

quando se fala em verso/ a alma fica lavada

no entanto, porém, contudo / tá na hora da partida

muito obrigado, querida/ por fazer falar um mudo


Fernando Moura e Fernanda Rocha