antes que a alma congele/ antes que o coração esfrie
não peça que adie / o que me revele
antes que o sol se ponha /antes que a noite chegue
não me peça que exponha/ o que sacia minha sede
antes que a noite parta/ antes que venha o dia
arrisco fazer poesia/ como ciência exata
antes que o tempo fuja / antes que alma sare
antes que você lave/ o que parecia suja
ouvindo o pio da coruja/ e sussurros der alcovas
poeta não cava covas/ e usa batom na blusa
escreva, não pare / é melhor ser desnuda
tomar chazinho de arruda/ e esperar que me cale
antes que a chuva caia / e que o céu assobie
antes que me arrepie/ ao olhar a tua saia
rezo pros bons ventos / levantar poeira e palavra
areia de boa lavra/ sopro que traz alento
espero castelo e graça / aceite meus cumprimentos
(talvez seja melhor/ no lugar de poeira
escrever apenas pó/ pra não quebrar a carreira)
castelo você já tem/ graça já tá vendendo
os cumprimentos são meus/ pra quem se mostra a contento
então não carece bater / só se preocupe em entrar
e com um poema espantar / toda tristeza do mundo
a prosa tá animada/ entre o côncavo e o convexo
quando se fala em verso/ a alma fica lavada
no entanto, porém, contudo / tá na hora da partida
muito obrigado, querida/ por fazer falar um mudo
Fernando Moura e Fernanda Rocha